Sinto-me acariciada assistindo, na prática, os
efeitos dos exercícios de acessibilidade atitudinal que venho fazendo no IAB.
Ouço as pessoas comentando que o meu trabalho de formiguinha vem surtindo
efeito.
Descrição da imagem para pessoas com deficiência visual: Imagem em forma de desenho do interior de um formigueiro. Há a presença de vários caminhos, por onde as formigas passam. Na parte inferior vemos uma formiga bem maior que as outras. Acima do formigueiro existem diversos matinhos verdes.
Fiquei
a refletir sobre isso. Concluí que não. Afinal, as formiguinhas fazem um
trabalho coletivo, de modo que o todo é bem maior que a soma das partes. Há uma
sinergia e empatia que paira no ar! Poxa, que bacana se o seguimento
acreditasse na transformação social via educação! Se não ficasse - tão-só -
pedindo novas leis... aumento nas multas... A educação é tudo! Creio na
atitudinal como alavanca transformadora.
Vou
dividir com todas, todes e todos uma singela passagem que, para mim, significa
muito e tem a ver com o 21 de setembro.
As
mulheres com deficiência sempre estiveram nas entrelinhas da história, já que
esquecidas e negligenciadas pela coletividade. A voz falada ou escrita lhes é
negada, até mesmo por suas pares. É mais fácil deixá-las na invisibilidade do
que efetivar os seus direitos fundamentais, valendo, para estes comentários,
ressaltar as acessibilidades em todas as suas nuances.
Na
condição de presidente da Comissão da Mulher, procurei o presidente nacional do
IAB - Dr. Técio Lins e Silva - para explicar-lhe a necessidade de ser colocada
uma rampa de acesso no tablado localizado no plenário, proporcionando, assim,
igual oportunidade a todas as pessoas que queiram ocupar o espaço. Sabia que,
pela conjuntura histórica do IAB, não seria nada simples.
Aduzi,
por exemplo, que uma mulher cadeirante, se convidada para um evento, não teria
autonomia e independência para participar da mesa, ante a ausência de
acessibilidade. Enfatizei os fundamentos e objetivos da república. Discutimos,
apresentando e contrapondo razões, em iguais condições de argumentação, o que
nos levou as várias reflexões e, finalmente, ao deferimento do pedido. Nem
acreditei! Depois de 174 anos de existência o IAB terá uma rampa!
Tive
a certeza que a fratria é o mote do Instituto. Constatei que a fraternidade age
como modo de coibir a desigualdade. Nesse particular, registro que a
contratação de intérpretes para a LIBRAS nos eventos da Comissão da Mulher
sempre foram bem recepcionados, numa demonstração de consciência na ruptura das
barreiras atitudinais, as quais impedem o cumprimento da legislação acerca das
acessibilidades.
Logo,
a fratria e a solidariedade funcionam no IAB como eixos para a reconstituição
dos laços sociais. Lindo!
Por
essa boa notícia é que a Comissão da Mulher - integradora de minorias e de
singularidades - adiou o evento que faria em 21 de setembro - dia da
conscientização da luta das pessoas com deficiência no Brasil - para nova data.
Então, a mulher com deficiência física poderá subir, com dignidade, a rampa de acesso
ao tablado para palestrar, juntamente com as suas iguais, em equiparação de
condições. Afinal, todos os dias do ano também são nossos!
As
mulheres com deficiência são muito mais violentadas, física e simbolicamente,
que as sem deficiência. Portanto, precisam ser ouvidas para que possam contar à
sociedade sobre a violência que também sofrem decorrente de gênero. Precisam
ser empoderadas para que participem do processo democrático em todos os campos
sociais, políticos e econômicos. Compete, da mesma forma a esse nicho
populacional, participar de debates públicos e tomar decisões que sejam
importantes para o futuro da sociedade. Certo é que o feminismo é um movimento
de transformação social.
O
IAB está construindo um novo conceito sobre as pessoas com deficiência, sendo
tal ressignificação essencial para a verdadeira inclusão. Mexer e romper com a
cultura que está posta faz séculos não é tarefa fácil. Voltar os olhos para
dentro de si e checar o que está certo e errado e ter a ousadia de mudar tudo
para prosseguir com novos paradigmas é nutrir o nobre sentimento da humildade.
Sinto-me
orgulhosa e honrada em integrar os quadros do IAB.
Deborah
Prates
(advogada
e feminista)