domingo, 21 de agosto de 2016

A mulher não está homenageada nas ruas


Descrição da imagem para deficientes visuais: placa da cidade do Rio de Janeiro azul com o rodapé branco. Está escrito: Rua Abrahão Jabour. 1884-1980. Criador da Cidade dos Velhinhos. 22783-135. Recreio dos Bandeirantes.



       Num certo dia um motorista ao me conduzir ao endereço combinado o fez com o auxílio de um GPS. Então, fui prestando atenção nos nomes das ruas que o aplicativo ia falando. Chamou-me a atenção o fato de não ter ouvido nenhum nome de mulher nas ruas anunciadas.


       Espantada com o óbvio travei um pequeno diálogo com o motorista:

       - O senhor costuma ouvir nomes de mulheres nas ruas e praças nos trajetos que faz?

       - A senhora sabe que nunca parei para pensar sobre isso! Mas agora, pensando bem, acho que não. Mas, por que a pergunta?

       - Talvez porque seja feminista. De repente me veio esse questionamento.

       Na privacidade das minhas reflexões fiquei a lembrar dos nomes das ruas no bairro onde moro e nos vizinhos. Inacreditavelmente não recordei nenhuma rua com nome de mulher. Chegando em casa fui pesquisar e confirmei a inexistência de qualquer homenagem a uma personagem mulher traduzida em uma placa de rua no entorno da minha residência.

       Detectei algumas poucas em outras localidades. Nossa, uma migalhice comparando-se as homenagens concedidas aos homens. De longe podemos entender essa constatação como algo banal. Ao contrário, as mulheres precisam estar mais unidas para que o movimento feminista tome corpo. Vale dizer que necessitamos estar mais nas ruas. Ocupar, de verdade, os espaços públicos e privados que também são nossos por humanidade e competência.

       Claro que essa observação deve-se ao patriarcado que nos assola desde sempre. É que o homem reduziu a mulher a uma coisa dando-lhe um significado puramente material. Verdadeiramente a mulher ainda é vista como um ser insignificante, secundário. A lógica é que, como uma coisa, não pode ser alçada a um personagem capaz de receber uma homenagem revelada num nome de rua, monumento, praça, etc. Incontestável é que a exceção  serve para confirmar a regra de que a igualdade de gênero ainda é incipiente.

       Para o pensador grego Aristóteles os homens eram seres pensantes, pelo que decidiam avida na pólis. Iam às ruas fazer política. Já as mulheres eram seres secundários, não pensantes, razão porque tinham os seus lugares da porta para dentro, melhor dizendo, confinadas nos lares. Por não serem essenciais é que serviam para procriar e criar os filhos, bem como cuidar dos escravos e animais.

       Lamentavelmente essa ideia ainda está entre nós em 2016, pelo que carecemos refletir, conversar sobre esse sutil detalhe. Faz pouco tempo que a grande mídia noticiou uma matéria dando ênfase a uma mulher de "sorte", anunciando-a como bela, recatada e do lar. Por estarmos mais zelosas e reflexivas foi que demos o troco nas redes sociais com muita veemência, de modo a abominar e rechaçar os predicados enfatizados na machista notícia.

       Notadamente não queremos mais estar confinadas nos domicílios, tampouco nos importa a beleza, o recato e o abominável título de a rainha do lar. Hoje queremos ser vistas e julgadas pela nossa competência em todas as áreas do conhecimento. Isso sim!

       A partir destas ponderações, se faz prudente pensar: e as mulheres com deficiência? Representando esse seguimento afirmo que não encontrei qualquer placa de rua homenageando uma mulher com deficiência.

       Claro que temos muitas de nós que lutaram bravamente, por exemplo, pela aprovação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, a fim de que tivesse status de Emenda Constitucional e tiveram sucesso nessa empreitada desgastante. Por que não estão homenageadas nas ruas? Existem muitas outras que se destacaram na nossa luta pela igualdade e que estão no esquecimento nessa nossa sociedade tão preconceituosa. Notório que as mulheres com deficiência ainda estão em fase gestacional. Precisamos nascer!

       Tenho participado de muitas conversas em praças públicas na RJ e, com segurança, digo que tenho sido a única mulher com deficiência. Sempre peço a palavra e, ao usar o microfone, faço essa checagem. Pena mesmo!


       Gritar, demandar, reclamar e estar nas ruas é o que temos a fazer, a fim de conquistar o nosso lugar dentro do movimento feminista.

             SORORIDADE é a palavra mágica da hora. Mulheres com e sem deficiência precisam se unir para o fortalecimento do direito de igualdade de gênero. Mas, como conseguir essa visibilidade?

       Indubitavelmente a resposta está nos valores e princípios éticos. O que as mulheres estão fazendo umas com as outras? Nítido que essa convivência vai muito mal! Tanto é assim que não somos chamadas para as rodas de conversas sobre as pautas de nosso interesse.

       As mulheres sem deficiência precisam encontrar a si próprias para que enxerguem as mulheres com deficiência como iguais. Estas têm que reconhecer que não somos quase alguém. Somos sim mulheres de direito e obrigações tanto quanto elas. Daí, ficará fácil encontrarem à alteridade.

       Creio que a pior cega é a que não quer ver, não é mesmo?


       Pensar, pensar, pensar...

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Mulher com deficiência na roda de conversa feminista na praça São Salvador

Na noite de 11/08/2016, compareci a um interessante evento promovido por mulheres, intitulado "Conversa na Praça: Mulher e Cidade". Tive a oportunidade de pugnar pela presença do segmento das mulheres com deficiência, já que esquecido pela sociedade. Frisei que a sororidade seletiva é uma tremenda contradição, pelo que as mulheres com e sem deficiência precisam estar unidas para que o movimento feminista ganhe força no enfrentamento do patriarcado. A ideia foi muito bem recepcionada por todas e todos presentes.









Descrição das fotos para deficientes visuais:


1) Deborah Prates de costas, no canto direito da imagem, falando ao microfone para várias pessoas (mais ou menos 30 que aparecem na foto). As pessoas estão em pé ou sentadas em cangas e ao fundo vê-se frondosas árvores.

2) Deborah Prates de perfil falando ao microfone. Usa óculos escuros, um moletom azul marinho e calças jeans claras.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Portugal deu um exemplo de acessibilidade atitudinal


Bons ventos nos levaram à Portugal nesse sábado olímpico!


A bordo do navio Sagres, de bandeira portuguesa, e com grande honra, anuncio a prática de maravilhosos exercícios de acessibilidade atitudinal por parte da tripulação. A pessoa com deficiência teve um tratamento proporcional a sua diferença.


Durante toda a visita fomos guiadas pelo solidário Cadete Raposo que, pacientemente, nos mostrou todos os 80m da embarcação. O navio, de 1937, não foi construído com qualquer critério de acessibilidade. No entanto, a vontade de incluir foi de tal ordem que conseguimos romper as barreiras físicas.


Eis um bom exemplo de como a solidariedade pode vencer infinitos obstáculos. Obrigada Casa de Portugal dos jogos olímpicos Rio 2016. O navio está atracado no 1º Distrito Naval, na praça Mauá.











Descrição das fotos para deficientes visuais, em ordem:

1) Deborah Prates em pé e sorrindo, está segurando a corda do sino do navio. Sino que anuncia os bons presságios para as mudanças atitudinais

2) Deborah segura a bússula do navio. É uma estrutura metálica dourada, de haste circular. Que nós, feministas, consigamos encontrar a direção da igualdade.

3) Deborah e Cadete Raposo, um ao lado do outro, e na frente de ambos está o leme do navio de madeira. Atrás, bandeirinhas coloridas diversas e um céu azul. 

4) Deborah encostando no joelho da estátua do Infante Dom Henrique. A estátua é pequena e está sobre uma estante de madeira, localizada no interior da embarcação.

5) Deborah e sua filha uma de cada lado do leme de madeira.

6) Deborah em primeiro plano e atrás toda a embarcação, vista de longe.