NO
BALANÇO DO SONHO INACESSÍVEL
Descrição da imagem para
deficientes visuais: No desenho aparece no centro um balanço de madeira, com uma
menina negra, de cabelos pretos encaracolados e esvoaçantes, um vestido verde e
azul e meias verdes, apresentando um largo sorriso. Os sapatos pretos da menina
estão no chão. O balanço está preso a um galho de árvore, esta localizada à
direita da imagem. O chão é recoberto de grama amarelada e há folhas caindo da árvore,
evidenciando paisagem de outono.
O som era confuso. Um murmurinho danado
de crianças numa das esquinas da Praia do Flamengo. Em sua cadeira de rodas
Pedro, quase agarrado nas grades verdes do Palácio do Catete, cobiçava aquele
balanço que ia e vinha cada vez mais ganhando altura. Os cabelos da menina
embaralhavam seu rosto de forma engraçada. O menino sorria tristemente sonhando
com a experiência de também estar naquele balanço.
No interior do parquinho Soninha
acompanhava a gritaria atentamente tentando chegar, com sua pequena bengala, no
escorrega para também dar o seu gritinho de satisfação no deslize do brinquedo.
Noutro lado do lago estava um grupo de
crianças surdas conversando em LIBRAS com outros coleguinhas que se encontravam
em frente dando pipocas aos patos.
Mães tentavam desviar seus filhos dos
perigos oferecidos pelos brinquedos em movimento.
Nada de nada de acessibilidade! Nem
mesmo marcações alertando distâncias - para proteção - a serem obedecidas pelos
responsáveis e crianças existia! Falo de providências de custo baixíssimo!
Inacreditável constatar que até as
crianças com deficiência permanecem INVISÍVEIS aos olhos da sociedade. O Sr.
Gestor está indiferente à dor, às alegrias ou aos desgostos dos
"pequenos". Certo é que rodei com Jimmy Prates - meu pessocão -
inúmeros parques e praças públicas em busca de acessibilidade nos brinquedos
sem encontrar algum na grande Rio de Janeiro. No Aterro do Flamengo, por
ilustração, achei, em boa quantidade, brinquedos com fezes dentro ou ao redor,
dando conta da total apatia dos Srs. Administradores da enorme área de lazer. A
saúde e a segurança das crianças não são negociáveis!
Ouvindo o noticiário televisual, não tão
distante, estava a nossa presidente afirmando que as nossas crianças são o futuro
do Brasil. Parece óbvio, né? Pois é, mas a realidade dá conta de que as
crianças COM deficiência na RJ estão fora dessa contemplação.
Então é que vale repetir que INCLUIR É PROCESSO DE CONSTRUÇÃO
DE SOCIEDADE IGUAL PARA TODOS. O que notamos é que algumas crianças, para o
gestor e coletividade, são mais iguais que outras! Sabido que através da
brincadeira a integração, a participação e a socialização das crianças acontece
de forma a transformá-las em adultos sãos.
Parabenizo a cidade de Cubatão que está
muito à frente de nós. Lá existe um playground adaptado, doado por empresários
que amam os seus semelhantes, composto por um carrossel e dois balanços
frontais adaptados para cadeiras de rodas e uma casa do Tarzan, com cadeiras
especiais para crianças com dificuldades de locomoção. O playground tem ainda
uma casa de bonecas e outros dois balanços adaptados que já haviam sido
adquiridos pela Prefeitura.
No entretanto, no PATRIMÔNIO CULTURAL DA
HUMANIDADE não há HUMANIZAÇÃO por parte da administração e empresários. Sempre
prudente repetir que os cariocas não vivem nos cartões postais que a prefeitura
exibe para o Planeta! Não. O nosso dia-a-dia é bastante cruel e sacrificado.
Afora a parte turística a INACESSIBILIDADE é o retrato da RJ por todo canto.
Precisamos ou não implementar a ACESSIBILIDADE ATITUDINAL JÁ? Temos que focar a
FAMÍLIA, a fim de que passemos a ter PERSONALIDADES ÉTICAS.
Escrevendo essa crônica veio-me a mente
um pensamento de Platão que, guardando-se as devidas proporções, ilustra legal
a espiritualidade da RJ. "Podemos facilmente perdoar uma criança que tem
medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da
luz."
Quando despertaremos? Somos os culpados
por tudo de mal - culturalmente falando - que nos acontece. O outubro eleitoral
vem aí!
Carinhosamente.
DEBORAH PRATES e JIMMY PRATES